Vacine-se contra a desinformação antes de votar neste domingo
Clara Becker
Um levantamento feito pela agência de checagem Lupa em parceria com a Palver, empresa de análise de dados e tendências, mapeou que mais de 920 mil usuários de WhatsApp e Telegram foram impactados desde o início da campanha deste ano (em 16 de agosto) por cerca de 750 mensagens únicas que mencionam as expressões “urnas auditáveis”, “fraude eleitoral” ou “voto impresso”, termos muito usados por produtores de conteúdo que atacam as urnas e questionam a integridade do processo eleitoral.
O monitoramento feito em mais de 80 mil grupos públicos observou ainda que, entre as mensagens que mais viralizaram, estão narrativas que tentam convencer o eleitor de que as urnas brasileiras não são confiáveis, além de teorias da conspiração que relacionam o cenário brasileiro à política internacional.
Os boatos sobre as urnas eletrônicas no Brasil são repetitivos, mas eficazes. A narrativa que o sistema de votação é vulnerável é constantemente reciclada, seja com histórias fantasiosas sobre urnas programadas para favorecer candidatos, ou alegações de que “códigos de segurança” teriam sido repassados a governos estrangeiros. Essas teorias não são baseadas em evidências. Pelo contrário, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) promove um sistema auditável, transparente e seguro.
As urnas eletrônicas passam por diversas auditorias, com a presença de partidos políticos, órgãos de fiscalização e especialistas independentes. Além disso, o código-fonte das urnas, alvo de tantas mentiras, é público e auditável, desmontando as alegações de que seria uma “caixa-preta” controlada por interesses obscuros.
Um dos boatos mais comuns que reaparece em cada ciclo eleitoral diz respeito à anulação de votos. Recentemente, voltou a circular a ideia de que as urnas teriam “anulado” milhões de votos em eleições passadas.
Esse mito é facilmente desmentido: o voto nulo só ocorre quando o eleitor digita um número inválido e confirma sua escolha. Não há nenhuma interferência da urna nesse processo; ela simplesmente segue o comando do eleitor. Ainda assim, o impacto desse tipo de desinformação é profundo, pois se aproveita da confusão técnica e do desconhecimento para plantar dúvidas sobre a integridade do sistema.
Outro exemplo clássico de desinformação reciclada é a suposta “sala secreta” do TSE onde a totalização dos votos seria manipulada. Esse tipo de alegação é desmentido por um processo que é, na verdade, público e auditável. A apuração dos votos ocorre de forma aberta, com a presença de diversos atores, incluindo jornalistas.
O TSE disponibiliza o Boletim de Urna (BU) em cada seção eleitoral, o que permite verificar os resultados de forma descentralizada, antes mesmo da conclusão da contagem nacional.
Mas talvez o ponto mais perigoso de toda essa onda de desinformação seja a tentativa de associar o processo eleitoral brasileiro a regimes estrangeiros. Ao vincular as eleições no Brasil a sistemas autoritários ou corruptos de outros países, essas narrativas conspiratórias procuram incutir medo e desconfiança nos eleitores. Essa comparação é não só injustificada, mas também perigosa, porque questiona as bases de um sistema democrático robusto e testado.
Essas mentiras, quando disseminadas em larga escala, têm o poder de provocar desilusão e apatia entre os eleitores. As pessoas que acreditam que seu voto não será contabilizado corretamente, se desengajam do processo democrático. E é exatamente isso que os propagadores de desinformação querem: um eleitorado que duvide do valor de sua participação cívica.
Por isso, o prebunking pode e deve ser usado para educar a população antes que as mentiras se espalhem de forma incontrolável. Uma sociedade informada é uma sociedade protegida. Quanto mais soubermos sobre o funcionamento das urnas, sobre o sistema eleitoral e sobre as auditorias que garantem a lisura do pleito, menos espaço haverá para que teorias conspiratórias e boatos infundados criem raízes.
Na dúvida se um conteúdo é verdadeiro, falso ou está fora de contexto, tenha sempre à mão o site do TSE, em especial a área Fato ou Boato?, dedicada às checagens dos conteúdos mais virais. Outros canais importantes para conferir a veracidade de uma publicação são as agências de checagem Lupa, Aos Fatos, Estadão Verifica e Fato ou Fake e o projeto Comprova.
A defesa da democracia é um trabalho coletivo. Cada voto conta, e cada eleitor bem informado é uma vitória contra a desinformação. Como sociedade, não podemos permitir que boatos sobre urnas eletrônicas e fraudes eleitorais desvirtuem a confiança que construímos ao longo de décadas. A confiança nas instituições democráticas não pode ser abalada por teorias conspiratórias. Ao exercer nosso direito de voto com consciência, não só reafirmamos a integridade do sistema, como também protegemos o futuro da nossa democracia.
Texto publicado no portal Metrópoles
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